A Lira dos Vinte Anos é antes de tudo uma obra autobiográfica, uma vez que seu autor, Álvares de Azevedo retrata de forma poética suas principais características e alguns acontecimentos de sua curta vida.
Na primeira parte, designada Ariel, Álvares mostra seu lado angelical, fraternal, parece estar apaixonado por uma mulher que o rejeita, e faz questão de demonstrar seu sofrimento com isto, cutua bastante o amor à família, ao campo. Outros fatos importantes são o medo da morte (devido à sua Tuberculose) e a forte religiosidade.
Já na segunda parte, nomeada Caliban, ele mostra seu lado negro, obscuro, diabólico, muito influenciado pelo Lord Byron, faz culto à morte e é extremamente irônico. Tem uma nova visão das mulheres, como se fossem objetos e abusa da sexualidade.
A terceira parte, é importante citar como sendo intermediária da primeira e da segunda, porém um pouco mais próxima do Ariel. E por causa da sua morte precipitada não teve uma nomeação adequada.
A obra é um marco não só do Romantismo, mas da Literatura mundial, pois é mais uma demonstração do Escapismo, a possibilidade que temos de fugir do mundo real e se refugiar nas palavras.
OBS: Ai segue um trecho declamado do poema "Por que mentias?'' da terceira parte da Lira feito por uma novela...
“A poesia é de certo uma loucura”
A Lira dos Vinte Anos compõe-se do que há de melhor na produção de Álvares de Azevedo. Estruturalmente divide-se em três partes ; mas do ponto de vista temático, em apenas duas. Por quê?
A primeira e terceira partes têm temas assemelhados: a morte, a família, os temas da adolescência, o sonho, a religiosidade, a forma feminina como obsessão; a segunda parte, no entanto, traz o irônico, o “satânico”, a mulher, ainda que em sonho, aproximada do erótico, carnal.
Lira dos Vinte Anos, único texto que o poeta preparou para a publicação, foi editado postumamente, em 1853, apresente claramente duas faces: a primeira e a terceira partes mostram um Álvares de Azevedo suave, ingênuo, sentimental, elegíaco. É o que Antonio Candido chamou de a face de Ariel. A segunda parte mostra um poeta macabro, satírico e sarcástico, constituindo o que o citado critico chama de a face de Caliban.
Nela, uma veia humorística submete as próprias obsessões do romantismo brasileiro a desmistificação prosaicas, num exemplo nacional de ironia romântica. O poeta sensível e recatado da primeira parte dá lugar a um poeta cínico e irreverente, que desfaz o mundo de sonhos e fantasias das outras partes da obra. Essas duas facetas da poética de Álvares de Azevedo exprimem os dois modos fundamentais que o poeta romântico alemão Schiller apontou como espécies da poesia sentimental moderna: o patético e o satírico. Ao primeiro, cabe avocar o real distante; e, ao segundo, agredir o real presente.
Quando, há cerca de dois ou três meses, tratamos das Vozes da América do sr. Fagundes Varela, aludimos de passagem às obras de outro acadêmico, morto aos vinte anos, o sr. Álvares de Azevedo. Então, referindo os efeitos do mal byrônico que lavrou durante algum tempo na mocidade brasileira, escrevemos isto:
"Um poeta houve, que apesar da sua extrema originalidade, não de receber esta influência a que aludimos, foi Álvares de Azevedo. Nele, porém, havia uma certa razão de consanguinidade com o poeta inglês, e uma íntima convivência com os poetas do norte da Europa. Era provável que os anos lhe trouxessem uma tal ou qual transformação, de maneira a afirmar-se mais a sua individualidade, e a desenvolver seu robustíssimo talento."
A essas palavras acrescentávamos que o autor da Lira dos vinte anos exercera uma parte de influência nas imaginações juvenis. Com efeito, se Lord Byron não era então desconhecido às inteligências educadas, se Otaviano e Pinheiro Guimarães já tinham trasladado para o português alguns cantos do autor de Giaour, uma grande parte de poetas, ainda nascentes e por nascer, começaram a conhecer o gênio inglês através das fantasias de Álvares de Azevedo, e apresentaram, não sem desgosto para os que apreciam a sinceridade poética, um triste cepticismo de segunda edição. Cremos que este mal já está atenuado, se não extinto.
Álvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou tempo, como disse um dos seus necrólogos. Aquela imaginação vivaz, ambiciosa, inquieta, receberia com o tempo as modificações necessárias; discernindo no seu fundo intelectual aquilo que era próprio de si, e aquilo que era apenas reflexo alheio, impressão da juventude. Álvares de Azevedo, acabaria por afirmar a sua individualidade poética. Era daqueles que o berço vota à imortalidade. Compara-se a idade com que morreu aos trabalhos que deixou, e ver-se-á que seiva poderosa não existia, naquela organização rara. Tinha os defeitos, as incertezas, os desvios, próprios de um talento novo, que não podia conter-se, nem buscava definir-se. A isto acrescente-se que a íntima convivência de alguns grande poetas da Alemanha e da Inglaterra produziu, como dissemos uma poderosa impressão naquele espírito, aliás tão original. Não tiramos disso nenhuma censura; essa convivência, que não poderia destruir o caráter da sua individualidade poética, ser-lhe-ia de muito proveito, e não pouco contribuiria para a formação definitiva de um talento tão real.
Cita-se sempre, a propósito do autor da Lira dos vinte anos, o nome de Lord Byron, como para indicar as predileções poéticas de Azevedo. É justo, mas não basta. O poeta fazia uma frequente leitura de Shakespeare, e pode-se afirmar que a cena de Hamlet e Horácio, diante da caveira de Yorick, inspirou-lhe mais de uma página de versos. Amava Shakespeare, e daí vem que nunca perdoou a tosquia que lhe fez Ducis. Em torno desses dois gênios, Shakespeare e Byron, juntavam-se outros, sem esquecer Musset, com quem Azevedo tinha mais de um ponto de contacto. De cada um desses caíram reflexos e raios nas obras de Azevedo. Os Boêmios e O poema de frade, um fragmento acabado, e um borrão, por emendar, explicarão melhor este pensamento.
Mas esta predileção, por mais definida que seja, não traçava para ele um limite literário, o que nos confirma na certeza de que, alguns anos mais, aquela viva imaginação, impressível a todos os contactos, acabaria por definir-se positivamente.
Nesses arroubos da fantasia, nessas correrias da imaginação, não se revela somente um verdadeiro talento, sentia-se uma verdadeira sensibilidade. A melancolia de Azevedo era sincera. Se excetuarmos as poesias e os poemas humorísticos, o autor da Lira dos vinte anos raras vezes escreve uma página que não denuncie a inspiração melancólica, uma saudade indefinida, uma vaga aspiração. Os elos versos que deixou impressionam profundamente, “Virgem morta”, “À minha mãe”, “Saudades” são completas neste gênero.
Qualquer que fosse a situação daquele espírito, não há dúvida nenhuma que a expressão desses versos é sincera e real. O pressentimento da morte, que Azevedo exprimiu em uma poesia extremamente popularizada, aparecia de quando em quando em todos os seus cantos, como um eco interior, menos um desejo que uma profecia. Que poesia e que sentimento nessas melancólicas estrofes!
Não é difícil ver que o tom dominante de uma grande parte dos versos ligava-se a circunstâncias de que ela conhecia a vida pelos livros que mais apreciava. Ambicionava uma existência poética, inteiramente conforme à índole dos seus poetas queridos. Este afã dolorido, expressão dele, completava-se com esse pressentimento de morte próxima, e enublava-lhe o espírito, para bem da poesia que lhe deve mais de uma elegia comovente.
Como poeta humorístico, Azevedo ocupa um lugar muito distinto. A viveza a originalidade, o chiste, o humor dos versos deste gênero são notáveis. Nos Boêmios, se pusermos de parte o assunto e a forma, acha-se em Azevedo um pouco daquela versificação de Dinis, não na admirável cantata de Dido, mas no precioso poema do Hissope. Azevedo metrificava às vezes mal, tem versos incorretos que havia de emendar sem dúvida; mas em geral tinha verso cheio de harmonia, e naturalidade, muitas vezes numeroso, mutíssimas eloquente.
Ensaiou-se na prosa, e escreveu muito; mas sua prosa não é igual ao seu verso. Era frequentemente difuso e confuso; faltava-lhe precisão e concisão. Tinha os defeitos próprios das estreias, mesmo brilhantes como eram as dele. Procurava abundância e caía no excesso. A ideia lutava-lhe com a pena, e a erudição dominava a reflexão. Mas se não era tão prosador como poeta, pode-se afirmar, pelo que deixou ver e entrever, quando se devia esperar dele, alguns anos mais.
O que deixamos dito de Azevedo podia ser desenvolvido em muitas páginas, mas resume completamente o nosso pensamento. Em tão curta idade, o poeta da Lira dos vinte anos deixou documentos valiosíssimos de um talento robusto e de uma imaginação vigorosa.
Avalia-se por aí o que viria a ser quando tivesse desenvolvido todos os seus recursos. Diz-nos ele que sonhava, para o teatro, uma reunião de Shakespeare, Calderon e Eurípedes, como necessária à reforma do gosto da arte. Um consórcio de elementos diversos, revestindo a própria individualidade, tal era a expressão de seu talento.
Obs: Machado de Assis é outro escritor brasileiro com obras maravilhosas, para os interessados abaixo tem um vídeo sobre sua vida e obra...
Dia 12 de setembro de 1831 na cidade de São Paulo nasceu um dos melhores romancistas brasileiros, Manuel Antônio Álvares de Azevedo, mais conhecido pelos dois últimos nomes. Realizou grandes feitos ao longo de sua curta, porém intensa vida. Quando criança foi com a família para o Rio de Janeiro, mas logo voltou para realizar o seu primeiro sonho: fazer Direito. Durante essa jornada da faculdade, o jovem Álvares viveu um período de boemia, forte produção e de uma grave tuberculose, que o fez vítima aos 21 anos.
Alguns pontos da sua personalidade e de sua jornada vital podemos observar em trechos de suas obras:
"Se eu morresse amanhã, viria ao menos / Fechar meus olhos minha triste irmã; / Minha mãe de saudades morreria / Se eu morresse amanhã!" (Álvares cultuava um forte amor pela sua família, principalmente sua mãe, o que faz os estudiosos imaginarem um possível complexo de édipo).
"É uma lira, mas sem cordas: uma primavera, mas sem flores, uma coroa de folhas, mas sem viço”. (Álvares fazia questão de demonstrar a antítese de sua vida dentro da obra).
"Poetas! amanhã ao meu cadáver Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda, e cantem nela Os amores da vida esperançosa!" (Ele era um grande seguidor e admirador do Lord Byron, e retratava a mesma frieza e o satanismo nas obras).
"E às primaveras digo adeus tão cedo
E na idade do amor envelheci!" (O jovem gostava de retratar sua infelicidade pela doença que tinha desde pequeno).
Algumas Informações:
Álvares é o patrono no. 2 da Academia Brasileira de Letras.
Escreveu Lira dos Vinte Anos, o Macário, Noite na Taverna e o Conde Lopo.
traduziu para o português o poema Parisina, de Lorde Byron, e o quinto ato de Otelo, de William Shakespeare.
Ai segue uma animação bem legal da biografia de Álvers de Azevedo:
Boa noite a todos. Este blog foi feito exclusivamente com a finalidade de um trabalho de Literatura. Depositarei aqui muitas informações sobre uma das maiores obras brasileiras, a Lira dos Vinte Anos, assim como o seu escritor, o grande poeta Álvares de Azevedo. Tentarei acoplar conteúdo e entretenimento ao máximo, para um estudo proveitoso e prazeroso. Obrigada pela atenção, aproveitem!